Descanso, família e até um pouco de trabalho. Como podemos organizar o tempo para aproveitar as férias ao máximo?

Chega a altura de ir de férias e há toda uma logística para preparar, especialmente quando há crianças envolvidas. Que atividades conseguimos fazer? Haverá tempo pessoal? E como podemos incluir uns minutos para responder a e-mails?

O Womanlife falou com Rute Teixeira, que é Organizadora de Tempo e que nos explica como é que esta ferramenta pode ser facilitadora na altura de ir de férias. Mas antes, tentámos perceber como é que a organização de tempo se encaixa no dia-a-dia.

Afinal, quais são as vantagens de organizar o tempo?

“Tudo começa pelo facto de nós conseguirmos visualizar o nosso tempo. Quando faço trabalhos de organização de tempo, a ferramenta que eu uso muito é aquilo a que eu chamo de ‘mapa do tempo’. Portanto, não é só uma questão de organizarmos na nossa cabeça e sabermos o que é que temos para fazer, mas de facto conseguirmos ver.”

“Nós conseguimos perceber onde é que estamos a gastar o nosso tempo. Quando começamos a desenhar este mapa o que começamos a ver é que fazemos muito disto e pouco daquilo. Eu dedico-me mais a isto, porquê? O que se passa? É isto que eu quero?”, explica a entrevistada.

Rute revela que com um mapa de tempo somos confrontados com os nossos hábitos e interesses, que levam a uma introspeção e trabalho de identidade para perceber o que estamos a fazer, e no que estamos a investir ou a gastar tempo.

Quais são as vantagens desta ferramenta nas férias?

“Nós focamo-nos muito nas férias, no típico ‘Eu preciso de não fazer nada’. Nós parece que passamos 350 dias à espera de 15. O meu grande desafio é tentar passar a mensagem de que todos os dias nós temos direito a um descanso e que as férias não são mais do que um descanso prolongado. Todos os dias nós temos de descansar, todos os dias devíamos ter momentos de lazer, de nos dedicarmos a coisas que nós gostamos e não ser só trabalho – casa.”

“Estarmos constantemente a desejar aqueles 15 dias em que nós desejamos que não se passe ‘nada’, mas também não é bem assim. As próprias férias também são um misto de atividade, descanso, lazer e é um tempo em que temos de gerir vários tempos de outros membros da família.”

Respondendo diretamente à pergunta, ‘Porque é que é importante organizarmos as férias?’, Rute explica, “É para conseguirmos que todos tenham os seus momentos e que consigam fazer aquilo que as férias são para eles. Para os filhos pode ser jogar Playstation e dar mergulhos na piscina, para mim pode ser ler e cozinhar durante mais tempo.”

 “Se cada um organizar as atividades que quer fazer, hábitos e expectativas podemos cruzar as informações da família toda para que se encontrem momentos para alinhar de maneira que os miúdos estejam a brincar, eu consiga estar a ler e o pai consiga estar a responder a e-mails. Isto só é possível se nós conseguirmos antecipar, visualizar e organizar estes momentos em conjunto”, afirma.

Como é que podemos encarar a organização do tempo sem sentirmos limitações/obrigações, visto que no fundo são férias?

“A nível de limitações e obrigações é curioso que quando realmente a pessoa pensa – ‘Ok, organizar tempo, agora vou estar aqui a estabelecer horários… e se não me apetecer fazer isto?’ – Está tudo certo. Aquilo que eu acho que ajuda bastante esta organização, esta visualização do mapa e também o próprio processo de o desenhar, é que quando nós fazemos escolhas conseguimos fazê-las com uma paz e uma tranquilidade que não acontece quando é tudo assim muito na cabeça, não é? Ou seja – ‘E agora? Que horas são? Agora não vamos a casa, vamos para ali…’ – Havendo um caminho que sabemos que, se seguirmos, vai funcionar tudo bem, se eu quero ficar mais tempo na praia [por exemplo], essa escolha vai ser sempre em detrimento de outra que podíamos fazer, então é agir de forma que todos concordem com essa escolha e que percebam o que é que não vai acontecer em vez disso.”

“Os miúdos querem ver um bocado mais de televisão. Se virem, a seguir ao jantar não vamos poder fazer aquele jogo de cartas. Se querem ficar mais tempo na piscina, então se calhar o tempo da Playstation vai ter de diminuir”, exemplifica.

E como é que isto funciona?  “De alguma forma nós ficamos descansados sobre o que vai acontecer. Em vez de os miúdos e os adultos estarem sempre na ânsia de – ‘Não tenho tempo para mim, não faço aquilo que eu quero’, eles sabem que aquilo vai acontecer. Eu sei que vou ter o meu momento de leitura. Também estou ciente que se houver um imprevisto, isto também se pode alterar. Mas não havendo, o momento está lá.”

Rute explica também que deixa de existir o – ‘Onde é que vamos?’, ‘Quando acontece? – das crianças. “Até porque, inevitavelmente, nós gostamos desta segurança. Nós gostamos de saber o quando, como e o que vai acontecer. Então, é criarmos um compromisso entre os pais e os filhos de que vão chegar a todo o lado”, conclui.

Então, como devemos organizar, uma semana de férias com um companheiro e filhos?

“Para que seja possível organizar um ‘mapa do tempo de família’, Rute desafia que cada um responda às perguntas: “Se fosses sozinho(a), como é que eram as férias? A que horas acordavas? Como era o teu dia?”

Para as crianças, Rute aconselha que cada uma faça listas de “Coisas que querem fazer”, “Coisas que gostariam de fazer” e “Coisas impossíveis, mas que adorariam de fazer”.

“Numa segunda fase, devemos tentar perceber como é a nossa energia ao longo do dia – tanto as crianças como os adultos – para depois conciliar as atividades a esses momentos. Não vamos obrigar uma criança a ler quando está naquele pico de energia, que quer é ir andar de bicicleta e fazer uma maratona. Estas coisas também dão sentido ao próprio dia.”, explica Rute.

Se todos os membros da família reunirem estas informações, é possível depois, em conjunto, inserirem as atividades nos blocos de tempo disponíveis para formar um mapa do tempo de família para as férias.